Talvez se eu pudesse escrever com o silêncio empregaria essa técnica neste momento. Talvez a tenha usado inclusive, por não ter escrito um texto, ou por não ter conseguido concluir um texto nos últimos meses. Consigo uma explicação plausível para os últimos 45 dias. Anterior a isto é puro empirismo. Faltaram-me: inspiração, desejo, força, coragem e até mesmo um cenário passível de ser descrito. Pra terminar esta declaração vou precisar usar o suporte de um texto já publicado chamado “Efemeridade”. Não sei se por prenúncio ou se por casualidade. Mas o fato é que eu fiz o texto para um momento que vivi, acreditando ter sido marcante, não tendo noção do que me aguardava alguns poucos meses à frente.
Eu, como uma boa parte das pessoas, sempre sonhei em ter o amor-verdadeiro, o amor-companheiro, amor-cúmplice, o amor-singular. Sonhava em ter uma companheira, no sentido literal. Uma pessoa que eu admirasse eternamente. Que me fizesse feliz e que fosse feliz ao meu lado. Sonhava em casar. Em ter filhos e me dedicar a ela e a família de forma intensa e perene. Sonhava no mínimo em envelhecer ao lado dela até o fim da vida. Em alguns relacionamentos que tive, quis acreditar que o sonho era real, mas o coração não me dava certeza. Num dado momento da minha vida ouvi as seguintes palavras: quando você encontrar o seu amor verdadeiro, você vai saber.
E foi num despretensioso dia que me deparei com esta verdade. Um dia normal, uma pessoa normal, mas que, ali, naquele instante, meu coração avisava: Ela existe! O instante seguinte foi a construção de uma nova realidade, regida pela felicidade extrema ao mesmo tempo por uma profunda sensação de conforto sentindo que eu tinha encontrado a energia que faltava para complementar minha vida.
Mas foi num outro despretensioso dia que meu amor virou saudade. Que meu casamento deixou de existir, que minha família não passou de um ideal, que envelhecer ao lado daquela pessoa voltou a ser apenas um sonho. Passei a sentir saudade do meu futuro. A convivência que tivemos em futuros 50 anos de vida a dois deixa o momento atual completamente fora de contexto. Perder a referência da pessoa que se ama e que se deseja passar o resto vida juntos não parece ser uma coisa que seja assimilada a tempo nenhum. É um fluxo interrompido bruscamente e que não permite adequações, que não permite sublimações, que torna o instante cristalizado no tempo.
Neste momento cabe ler o texto “Efemeridade”.
E vivendo cada momento como se fosse o derradeiro, minha felicidade é saber que as últimas palavras ditas por mim para ela foram: meu amor, eu te amo.