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12 de novembro de 2006

Saudade do Futuro

Talvez se eu pudesse escrever com o silêncio empregaria essa técnica neste momento. Talvez a tenha usado inclusive, por não ter escrito um texto, ou por não ter conseguido concluir um texto nos últimos meses. Consigo uma explicação plausível para os últimos 45 dias. Anterior a isto é puro empirismo. Faltaram-me: inspiração, desejo, força, coragem e até mesmo um cenário passível de ser descrito. Pra terminar esta declaração vou precisar usar o suporte de um texto já publicado chamado “Efemeridade”. Não sei se por prenúncio ou se por casualidade. Mas o fato é que eu fiz o texto para um momento que vivi, acreditando ter sido marcante, não tendo noção do que me aguardava alguns poucos meses à frente.

Eu, como uma boa parte das pessoas, sempre sonhei em ter o amor-verdadeiro, o amor-companheiro, amor-cúmplice, o amor-singular. Sonhava em ter uma companheira, no sentido literal. Uma pessoa que eu admirasse eternamente. Que me fizesse feliz e que fosse feliz ao meu lado. Sonhava em casar. Em ter filhos e me dedicar a ela e a família de forma intensa e perene. Sonhava no mínimo em envelhecer ao lado dela até o fim da vida. Em alguns relacionamentos que tive, quis acreditar que o sonho era real, mas o coração não me dava certeza. Num dado momento da minha vida ouvi as seguintes palavras: quando você encontrar o seu amor verdadeiro, você vai saber.

E foi num despretensioso dia que me deparei com esta verdade. Um dia normal, uma pessoa normal, mas que, ali, naquele instante, meu coração avisava: Ela existe! O instante seguinte foi a construção de uma nova realidade, regida pela felicidade extrema ao mesmo tempo por uma profunda sensação de conforto sentindo que eu tinha encontrado a energia que faltava para complementar minha vida.

Mas foi num outro despretensioso dia que meu amor virou saudade. Que meu casamento deixou de existir, que minha família não passou de um ideal, que envelhecer ao lado daquela pessoa voltou a ser apenas um sonho. Passei a sentir saudade do meu futuro. A convivência que tivemos em futuros 50 anos de vida a dois deixa o momento atual completamente fora de contexto. Perder a referência da pessoa que se ama e que se deseja passar o resto vida juntos não parece ser uma coisa que seja assimilada a tempo nenhum. É um fluxo interrompido bruscamente e que não permite adequações, que não permite sublimações, que torna o instante cristalizado no tempo.

Neste momento cabe ler o texto “Efemeridade”.

E vivendo cada momento como se fosse o derradeiro, minha felicidade é saber que as últimas palavras ditas por mim para ela foram: meu amor, eu te amo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Também quebrei aqui a “técnica do silêncio” pra escrever para você. Não que eu não fale muito ou já não tenha te contado tudo que acho e que sinto diante do que aconteceu. Pelo contrário! Mas o fato é que quando a gente pára pra escrever, parece que se torna mais difícil tratar do assunto. Mesmo assim eu quis vir aqui pra repetir mais uma vez (de novo, novamente, outra vez...) que você não está sozinho, que você é uma pessoa muito querida, que tem amigos que te adoram e que estão muito dispostos a ajudá-lo. Às vezes não temos muito que fazer de concreto e imediato pra aliviar o sofrimento, se eu pudesse fazer isso, pode ter certeza de que não mediria forças para fazê-lo! Acho que você já sabe disso. Mas seja através de brincadeiras ou de conversas mais sérias, das intermináveis brigas ou de abraços virtuais, a verdade é que eu estou aqui do seu lado e sempre desejando coisas boas pra você. Beijo da sua amiga, Ludmila.

Anônimo disse...

Algumas vezes eu tenho uns insights pra falar sobre temas abstratos, mas nunca com tanta maestria como esses textos que li. Já pensei sobre o tempo, a saudade, o viver o momento como o último. E hoje, eu penso que talvez essas tenham sido palavras inúteis ou sem força de comparação para o real sentimento de perda. O tempo é nosso grande mediador. ELe é cruel, é injusto e às vezes nos faz perder o sentido do que é presente, passado e futuro. Ele merece nosso respeito pelas consequências que causa em nossas vidas. É ele quem atrasa, quem acelera, quem faz doer, faz passar, faz acontecer. É pro tempo que devemos fazer reverência a cada instante, na tentativa de que ele seja misericordioso conosco, estendendo nossos bons momentos, tornando-os eternos, ou simplesmente fazendo irrelevantes os instantes mais desprezíveis de nossa existência. É isso que te desejo, que o tempo possa fazer seu aliado, que vc não deixe que um sonho interrompido cesse sua força para sonhar. Que suas lembranças de sonhos sejam seus parâmetros pra a busca de seu futuro. Seu futuro que precisa e vai recomeçar, que ainda existe e seus sonhos também, talvez agora abalados, mas ainda vivos. E não esquece NUNCA do apoio que vc tem em cada uma de nós. Da amizade, do respeito e principalmente da admiração que temos por você. Beijos, Zil.